Lições para o pós-quarentena. E agora?
Por Ricardo MurilhasSempre ouvi que os países que passaram por guerras tinham evoluído mais que outros que não passaram por isso, como o Brasil. Não sei se são regra ou exceção, mas Alemanha, França, Japão, Coreia do Sul são alguns exemplos de países que se reinventaram depois de grandes traumas.
Aqui no nosso país, esta quarentena provocada por um vírus, talvez tenha sido, ou continue sendo, a nossa guerra, o nosso divisor de águas para sairmos de um estado de letargia e de um jeito antigo de fazer as coisas, para um novo modelo, uma nova realidade.
Questões políticas e financeiras à parte, relacionei a seguir alguns pontos que merecem uma reflexão e que talvez façam a diferença no nosso pós-guerra.
Estrutura ágil nada tem a ver com o tamanho da empresa
Aparentemente, empresas menores, enxutas, têm mais condições de se adaptarem a novas circunstâncias, como a da quarentena. Porém, o que vimos neste período de isolamento foi que existem empresas pequenas, enxutas, que mesmo assim ficaram arraigadas a antigos preceitos e formas tradicionais de ver as coisas, enquanto grandes corporações conseguiram rapidamente encontrar outras formas de atuar.
Quer dizer, não importa se você é grande ou pequeno, com grande capacidade de investimento ou não. O que conta é a capacidade de adaptação a novas realidades e cenários.
Prova disso é que, neste período que vivemos, quem correu atrás de fazer as coisas de um jeito diferente e continuar operando, saiu-se melhor do que quem ficou apenas exigindo o fim da quarentena.
Sua empresa precisa ter uma operação que minimamente funcione de forma remota
A quarentena foi o teste de fogo para o home office. Até então, muitas empresas e profissionais viam este modelo com ressalvas. Porém, as que tinham modelos de trabalho flexíveis e colaboradores mais maduros para trabalhar à distância passaram melhor por este período.
Da mesma forma, uma estrutura mínima de e-commerce, delivery, marketplace ou mesmo divulgação no WhatsApp fez a diferença. Quem não viu aquele case da empresa de chocolates que estava vendo todo o seu estoque de ovos de Páscoa encalhar e que, graças a uma corrente no WhatsApp, vendeu tudo? E as peixarias que conseguiram manter-se trabalhando e vendendo graças a esse mesmo tipo de ação?
Ora, se uma simples peixaria conseguiu, com o perdão do trocadilho, vender o seu peixe, uma empresa maior, mais estruturada e com processos claros e definidos também consegue.
Seus clientes formam a sua comunidade. Trate-os como tal
Conhecer seus clientes, quem são, onde estão, do que precisam, é uma obrigação de toda empresa. Não importa se for uma corporação gigante ou um pequeno armazém na periferia. É necessário entender seu público, estar próximo dele. Melhor que o lucro rápido é o lucro constante. Nem sempre o preço baixo é a solução. Durante o isolamento, seu estabelecimento adotou regras sanitárias, como uso de máscaras, dispensers de álcool gel, serviços diferenciados, etc? Muita gente preferiu comprar onde as práticas eram melhores e mais seguras, independentemente do preço.
Pois então, no pós-quarentena é preciso descobrir qual é o correspondente ao “álcool gel” da epidemia: agilidade, entendimento das necessidades do cliente, flexibilidade para se adaptar a essas necessidades são alguns fortes indícios de se estar no caminho certo.
A tecnologia é importante aliada, quer você queira ou não
Ao término da segunda década do século XXI é impossível ser reativo à tecnologia e à ciência. Não dá mais para operar na base do “eu sempre fiz as coisas desse jeito e deu certo”. Ok, foi bom enquanto durou, mas a fila anda e você e a sua empresa precisam se adaptar a ela, antes que o seu concorrente o faça. Aquela frase “faça as coisas do mesmo jeito que sempre fez e terá o mesmo resultado que sempre teve” acaba de ser revogada. Sua nova versão é “faça as coisas como sempre fez e… adeus!”
Sei que o medo do desconhecido é maior que o do conhecido. É como aquele carro velho que o dono conhece os macetes e consegue ir e vir sem grandes problemas. A questão é que você não vai conseguir trafegar na era da pós-pandemia-terceiro-milenista-evolutiva-mega-giga-blaster-tecno-fluida-quântica com um carro velho.
Nunca o termo “sair da zona de conforto” fez tanto sentido, até porque a tal “zona de conforto”, se é que existe, acaba de se mudar de lugar.